Um grupo social de significativa presença em Campinas foi o dos descendentes de africanos, que vieram para o Brasil em função da escravidão. Muitos desses africanos e seus descendentes, que obtiveram a liberdade em diferentes épocas, destacaram-se como importantes agentes da vida social na cidade, e não apenas como parte expressiva do contingente de trabalhadores urbanos e rurais, mas como profissionais atuantes em várias áreas. No entanto, a vigência de mais de três séculos de escravidão e a imposição de sérias barreiras sociais, criaram enormes dificuldades para que este segmento da população se destacasse ainda mais, ainda que algumas experiências tenham se revelado essenciais para garantir o acesso de afrodescendentes à educação. Suas conquistas, construídas em meio a limites, são exemplos de luta por uma cidadania plena, compartilhada por grande parte da população campineira e brasileira. Na década de 1860, em plena vigência da escravidão, o negro liberto Antônio Ferreiro Cesarino e suas irmãs Bernardina, Amâncio e Balbína, fundaram em Campinas o Colégio Perseverança (conhecido como Colégio Cesarino), de educação feminina.
O Cesarino contava com professores
negros de grande prestígio e um número significativo de alunos de famílias mais
abastadas da cidade, e muito embora a escola fosse particular e não destinada,
exclusivamente, a alunos negros, o professor Cesarino garantia a escolarização de
algumas alunas negras sem recursos, sem contar com qualquer tipo de subvenção
oficial. O destaque desta instituição levou D. Pedro II a visitá-lo em 1876,
ano, no entanto, que a escola fechou suas portas por dificuldades financeiras.
De fato, a trajetória do Cesarino nos coloca diante das efetivas possibilidades
e dificuldades enfrentadas pelos descendentes africanos em obter acesso à
escolarização.
Um outro caso importante foi o da
Escola São Benedito, surgida nos fundos da Igreja de São Benedito no final do
século XIX, para escolarizar alunos de origem africana e pessoas de condição
social modesta; esta escola manteve também uma Banda Musical reconhecida na
cidade. Em 1902, desta antiga Escola, surgiu o Colégio São Benedito
instituição que funcionou (com dificuldades) em dependências anexas à Igreja
até 1908, ano em que o Bispo D. João Nery realizou uma intervenção na Irmandade
de São Benedito, transferindo-a para o controle dos padres da Congregação Sagrado
dos Estigmas.
A partir de então, o Colégio foi
instalado em uma casa alugada na rua Moraes Sales, foi incorporado à Federação
Paulista dos Homens de Cor em 1910 e até o falecimento de seu diretor e
fundador, Francisco José de Oliveira, em 1937, o Colégio São Benedito
funcionou com regularidade, atendendo alunos dos mais variados grupos sociais e
origens étnicas e se configurando como importante testemunho da organização da população
negra em Campinas.
PESSOA. Ângelo Emílio da Silva. Conhecer Campinas, Uma Perspectiva
Histórica. Campinas: SME, 2004, pp109-110.
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