VESTIBULAR
2015 - UNESP
Prova de
Conhecimentos Específicos e Redação
Linguagens
e Códigos
15.12.2014
REDAÇÃO
Texto 1
O Brasil era o último país do mundo ocidental a eliminar a escravidão!
Para a maioria dos parlamentares, que se tinham empenhado pela abolição, a
questão estava encerrada. Os ex-escravos foram abandonados à sua própria sorte.
Caberia a eles, daí por diante, converter sua emancipação em realidade. Se a
lei lhes garantia o status jurídico de homens livres, ela não lhes fornecia
meios para tornar sua liberdade efetiva. A igualdade jurídica não era
suficiente para eliminar as enormes distâncias sociais e os preconceitos que
mais de trezentos anos de cativeiro haviam criado. A Lei Áurea abolia a
escravidão mas não seu legado. Trezentos anos de opressão não se eliminam com
uma penada. A abolição foi apenas o primeiro passo na direção da emancipação do
negro. Nem por isso deixou de ser uma conquista, se bem que de efeito limitado.
(Emília
Viotti da Costa. A abolição, 2008.)
Texto 2
O Instituto Ethos, em parceria com outras entidades, divulgou um estudo
sobre a participação do negro nas 500 maiores empresas do país. E lamentou, com
os jornais, o fato de que 27% delas não souberam responder quantos negros havia
em cada nível funcional. Esse dado foi divulgado como indício de que, no
Brasil, existe racismo. Um paradoxo. Quase um terço das empresas demonstra a
entidades seriíssimas que “cor” ou “raça” não são filtros em seus departamentos
de RH e, exatamente por essa razão, as empresas passam a ser suspeitas de
racismo. Elas são acusadas por aquilo que as absolve. Tempos perigosos, em que
pessoas, com ótimas intenções, não percebem que talvez estejam jogando no lixo
o nosso maior patrimônio: a ausência de ódio racial.
Há toda uma gama de historiadores sérios, dedicados e igualmente
bem-intencionados, que estudam a escravidão e se deparam com esta mesma
constatação: nossa riqueza é esta, a tolerância. Nada escamoteiam: bem documentados,
mostram os horrores da escravidão, mas atestam que, não a cor, mas a condição
econômica é que explica a manutenção de um indivíduo na pobreza. [...]. Hoje,
se a maior parte dos pobres é de negros, isso não se deve à cor da pele. Com
uma melhor distribuição de renda, a condição do negro vai melhorar acentuadamente.
Porque, aqui, cor não é uma questão.
(Ali Kamel.
“Não somos racistas”. www.oglobo.com.br, 09.12.2003.)
Texto 3
Qualquer estudo sobre o racismo no Brasil deve começar por notar que,
aqui, o racismo é um tabu. De fato, os brasileiros imaginam que vivem numa
sociedade onde não há discriminação racial. Essa é uma fonte de orgulho nacional,
e serve, no nosso confronto e comparação com outras nações, como prova
inconteste de nosso status de povo civilizado.
(Antonio
Sérgio Alfredo Guimarães. Racismo e anti-racismo no Brasil, 1999. Adaptado.)
Texto 4
Na ausência de uma política discriminatória oficial, estamos envoltos no
país de uma “boa consciência”, que nega o preconceito ou o reconhece como mais
brando. Afirma-se de modo genérico e sem questionamento uma certa harmonia
racial e joga-se para o plano pessoal os possíveis conflitos. Essa é sem dúvida
uma maneira problemática de lidar com o tema: ora ele se torna inexistente, ora
aparece na roupa de alguém outro.
É só dessa maneira que podemos explicar os resultados de uma pesquisa realizada
em 1988, em São Paulo, na qual 97% dos entrevistados afirmaram não ter
preconceito e 98% dos mesmos entrevistados disseram conhecer outras pessoas que
tinham, sim, preconceito. Ao mesmo tempo, quando inquiridos sobre o grau de
relação com aqueles que consideravam racistas, os entrevistados apontavam com
frequência parentes próximos, namorados e amigos íntimos. Todo brasileiro
parece se sentir, portanto, como uma ilha de democracia racial, cercado de
racistas por todos os lados.
(Lilia
Moritz Schwarcz. Nem preto nem branco, muito pelo contrário, 2012. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados e
em seus próprios conhecimentos, escreva uma redação de gênero dissertativo, empregando
a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
O legado da escravidão e o
preconceito contra negros no Brasil
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