quinta-feira, 22 de março de 2012

Jongo


Jongo

Dança afro-brasileira de motivação religiosa e caráter iniciático, dançada em roda por par solto ou por homens e mulheres indistintamente, ao som de tambores e chocalhos. Seus cânticos chamados “pontos”, como na umbanda, constroem-se sobre letras metafóricas de sentido enigmático ou em linguagem cifrada. Conhecida principalmente em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espirito Santo, e originária talvez da região de Benguela, na atual Angola, seu nome origina-se provavelmente, do umbundo onjongo, nome de uma dança dos Ovimbundos.

A dança: A dinâmica do desenvolvimento da dança em geral é a seguinte: preparada e acesa a fogueira no terreiro, chegam o responsável pela função e os instrumentos, que se posicionam quase sempre na direção da igreja ou da capela. Os dançantes, por sua vez, originam-se em roda, alternando-se homens e mulheres. O jongueiro-chefe tira o chapéu, ajoelha-se, faz o sinal-da-cruz, cavalga seu tambu, o tambor maior, e nele dá uns toques, secundando pelo tocador do tambor menor. Feito isso, cede lugar a outro tocador e, segurando o chapéu com a mão direita, olha para o céu, e em meio a absoluto silêncio, apenas entrecortado de “vivas”, saúda as almas, os santos padroeiros, as autoridades e o povo do lugar. Inicia-se a dança com a roda girando em sentido inverso ao horário; e os dançantes, em balancê de dois ou três passos simulando abraços, mas sem se tocar, viram-se à direita e à esquerda. Essa primeira dança. Essa primeira dança é o acompanhamento do ponto inicial, de louvação, cantado pelo jongueiro-chefe e respondido pelo coro. A seguinte, já menos solene acompanha um “ponto” de desafio, lançado para que o outro jongueiro o “desamarre”, e também respondido pelo coro dos dançantes. Encontrada a solução para o enigma musicalmente proposto, o decifrador vai até o tambu, dá-lhe uma pancada e grita “cachoeira!”. No chamado jongo carioca, mais movimentado e de coreografia mais rica, formada a roda, um jongueiro vai ao centro dançando e escolhe uma mulher e com ela dança, o par solto, com as aproximações e negaças de estilo. Quando o outro quer mostrar mais agilidade e virtuosismo, “corta-o”, colocando as mãos em suas costas e toma-lhe a dama. Na modalidade conhecida como jongo paulista, a roda, se forma normalmente, com homens e mulheres dançando em pares soltos.

Instrumentos: No jongo é, em geral usado o seguinte instrumental: tambores, em número de três ou quatro, puíta e guaiá. Os tambores recebem os nomes de tambu (o maior de todos), também chamado pai-toco, pai-joão, joão e guanazamba; candongueiro médio, igualmente conhecido como goana e angona ; e gunzunga, o menor de todos, igualmente chamado de cadete. Outros nomes regionais dos tambores do jongo são: caçununga, caxumba, maria, papai, angona, trovador, papai-velho e chibante, para maior; estrelinho para pequeno; e viajante para o médio. Em Iguape, SP, o instrumental compõe de dois atabaques, do “boi”, nome que lá recebe a puita; de cabaças recobertas com um traçado de taquara, chamadas quaxaquaios e de uma baqueta que é percutida no corpo de um dos atabaques.

Magia: Também conhecido como “danças das almas”, o jongo é sempre revestido de uma aura sobrenatural, e seus praticantes gozam de fama de mágicos e feiticeiros. A mitologia do jongo, que só deve ser dançado à noite, é repleto de casos de encantamentos e prodígios. A linguagem cifrada utilizada nos pontos de jongo, ao que se conta, muitas vezes possibilitou conspirações e atos de rebeldia de escravos e nos dias atuais serve para críticas, debiques e malícias veladas e só compreendidas pelos afeitos à linguagem jongueira.

in: LOPES, Nei. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana, Selo Negro Edições, São Paulo, 2004. pp 365-366.



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