domingo, 11 de março de 2012

Poesia Africana de Língua Protuguesa



Os professores da rede pública estadual de ensino, de São Paulo, receberam dentro dos livros selecionados pela Leitura do Professor a obra Poesia Africana de Língua Portuguesa - Antologia, um grupo muito expressivo de poetas de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe estão presentes nesta publicação.

Poetas de fronteira, a encostarem o português aos idiomas africanos e, em alguns casos, a também neles se expressarem no dia a dia, aqui aparecem num só livro, mas separados pelo país de origem, a deixar claro que pertence a realidades diferentes – e são claras as distâncias que separam os de Moçambique dos de Angola e, mais ainda, estes, continentais, dos insulares, dos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, onde, como na Guiné Bissau, a língua portuguesa convive com seus crioulos. Todos viveram, porém, a comum experiência do império e quase todos puseram suas vontades na luta contra o colonialismo. Não se estranhe, por isso, que o idioma que foi de opressão e mando seja usado, em alguns deles, com remorso, mágoa e, aqui e ali, rancor e amargura. Mas é em português que expressam o que sentem – e o que sentem com intensidade de poetas

(trecho da introdução do livro por Alberto da Costa e Silva)


Crioulo

Há em ti a chama que arde com inquietação

E o lume íntimo, escondido, dos restolhos,

- que é calor que tem mais duração.

A terra onde nasceste deu-te a coragem e a resignação.

Deu-te a fome nas estiagens dolorosas.

Deu-te a dor para que, nela

Sofrendo fosses mais humano.

Deu-te a provar da sua taça o agridoce da compreensão,

E a humildade que nasce do desengano...

E deu-te esta esperança desenganada

Em cada um dos dias que virão

E esta alegria guardada

Para a manhã esperada

Em vão...

(Manuel Lopes – Cabo Verde)

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