Os professores da rede pública estadual de ensino, de São Paulo, receberam dentro dos livros selecionados pela Leitura do Professor a obra Poesia Africana de Língua Portuguesa - Antologia, um grupo muito expressivo de poetas de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe estão presentes nesta publicação.
Poetas de fronteira, a encostarem o português aos idiomas africanos e, em alguns casos, a também neles se expressarem no dia a dia, aqui aparecem num só livro, mas separados pelo país de origem, a deixar claro que pertence a realidades diferentes – e são claras as distâncias que separam os de Moçambique dos de Angola e, mais ainda, estes, continentais, dos insulares, dos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, onde, como na Guiné Bissau, a língua portuguesa convive com seus crioulos. Todos viveram, porém, a comum experiência do império e quase todos puseram suas vontades na luta contra o colonialismo. Não se estranhe, por isso, que o idioma que foi de opressão e mando seja usado, em alguns deles, com remorso, mágoa e, aqui e ali, rancor e amargura. Mas é em português que expressam o que sentem – e o que sentem com intensidade de poetas
(trecho da introdução do livro por Alberto da Costa e Silva)
Crioulo
Há em ti a chama que arde com inquietação
E o lume íntimo, escondido, dos restolhos,
- que é calor que tem mais duração.
A terra onde nasceste deu-te a coragem e a resignação.
Deu-te a fome nas estiagens dolorosas.
Deu-te a dor para que, nela
Sofrendo fosses mais humano.
Deu-te a provar da sua taça o agridoce da compreensão,
E a humildade que nasce do desengano...
E deu-te esta esperança desenganada
Em cada um dos dias que virão
E esta alegria guardada
Para a manhã esperada
Em vão...
(Manuel Lopes – Cabo Verde)
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